quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Eu, motorista

Dei uma carona para minha avó:

- Meu Deus, mas que cheiro nesse carro!

- Não estou sentindo nada. Ninguém come nem fuma aqui dentro.

- Você só pode ter carregado alguma coisa para estar assim...

-  Deve ser dos comunistas que eu levo por aí.

Às vezes, a verdade dispensa maiores perguntas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Eugène Green já sabia

O que está dito, está dito.

Gostaria de ligar menos para as palavras, mas não consigo.

Creio que deva existir alguma obsessão da minha parte, pois valorizo-as de um modo que continuo travando antes de digitar qualquer coisa e escrevendo a lápis até hoje - já nos meus supostos "vinte e muitos".

Penso além da conta no que posso dizer, ainda que me acarrete o silêncio, e mais ainda no que escuto. Fico surpreso por horas com o que dizem por aí. Quando eu sou o assunto, passo até dias imaginando de onde vieram aquelas conclusões, aquelas palavras.

Questiono se sou estranho por dar importância para este tipo de coisa.

As pessoas a minha volta respondem sem palavras.


Este blog continua.

domingo, 24 de novembro de 2013

Eu, apanhador

Para comemorar meu um ano de emprego, fica o registro de uma conversa com uma amiga mais nova ocorrida 14 meses atrás. Estávamos na calçada em frente ao café, já nos despedindo, quando retomei um assunto que ela havia comentado por cima.

- Então, você largou o estágio de vez?

- Sim, Ban, larguei. Não aguentava mais.

- Eu lembro do que você me contava. Parecia ruim mesmo. E você não vai procurar outro.

- É, eu quero, sei lá, estudar nessa reta final da facul. Terminar a mono, coisa assim.

- Aham. Mas... você já sabe o que você vai fazer? Depois de - 

- Não, não sei.

- É complicado, mas... Olha, se você pretende procurar um escritório, é melhor fazer já. Senão você vai ficar igual a mim.

- É. Eu não quero... Ah, desculpa.

- O quê?

- Nada, nada.

- O que foi, Lu?

- É que... eu não sei o que fazer!

- Normal. Olhe para mim.

- Mas é por isso mesmo!

- Hã?

- Ban, eu sempre te admirei. Você pode fazer tanta coisa! Você é melhor que esses babacas todos. E... ah, esquece. Não quero te magoar.

- Não. Diga, vai.

- Você tá aí. Perdido. O que você está fazendo?

- Não sei também. Leva tempo para saber.

- Eu sei que eu não quero ficar como você está agora. Eu quero, sei lá, alguma coisa que eu ainda não sei, mas eu penso em você, que eu sempre tive como exemplo, e tá assim... Eu... Eu não quero ser como você. Não quero isso pra mim. Desculpa. Te magoei? 

- Não.

Rimos.

- Ok, sério. Na verdade, fico feliz por você pensar assim. Você pode decidir melhor agora. E ainda pode pensar em mim como exemplo, mesmo que seja do que não fazer.

- Você é melhor que esses babacas todos mesmo.

Eu realmente fiquei com uma ponta de orgulho. Eu nunca havia imaginado essa admiração toda, mas a sensação de dever cumprido vinha de que eu sabia, então, que eu havia salvado uma do precipício maluco.

Pelo menos uma, pensei.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Jens Lekman já sabia

Things get more complicated when you're older
before you know it you are somebody's soldier


E quando você se pergunta onde e quando se alistou, o fuzil em sua mão já foi usado.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ryan Adams já sabia

So, I am in the twilight of my youth
Not that I'm going to remember


E a letra tornou-se tão real quanto parte do passado mais rápido do que eu jamais poderia supor.

domingo, 19 de maio de 2013

Atualização

Muito aconteceu nos últimos meses - e mais ainda nos últimos dias. 

O motivo de silêncio por aqui eu pensei que soubesse: seria por, finalmente, eu ter deixado de ser a pessoa mais patética de minhas observações, não sendo cabível aqui embaraços que comprometam qualquer um além de mim mesmo. 

No entanto, não é nada disso. Eu simplesmente percebi que pensamentos importam. Que opiniões não brotam da terra. Conclusões são frutos de trabalho árduo. Idéias precisam ser calmamente nutridas. Histórias são especiais pelas pessoas presentes nelas.

E é preciso ter cautela e reserva para não correr o risco de banalizar nenhum dos anteriores.

Enfim, percebi que o que eu escrevo diz respeito, acima de tudo, a mim e para mim.

Vai na contramão de 90% das pessoas da sociedade atual, pode ser, mas não sinto necessidade de compartilhar ou exibir nada. Pelo contrário. Percebo que o pouco que penso, concluo, vivo, é precioso e não deve ser espalhado ao vento. 

Digo "precioso" não por conter grandes verdades - meus pensamentos são pífios, minhas conclusões contraditórias, as idéias equivocadas. Mas são todos frutos da minha história. Fazem parte de quem eu sou. Não sou arrogante a ponto de me intitular único, convenhamos, apenas não quero me espalhar por aí. Vamos deixar isso às cinzas.

(Não estou encerrando as atividades aqui ou em lugar nenhum. Apenas revendo pontos importantes.)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Escolha difícil

É dia do show.

Você chega ao lugar tão falado por todos e imediatamente começa a olhar ao redor. Há bastante gente por todos os lados e você procura por um canto confortável para chamar de seu. A primeira escolha, feita às pressas, é boa, centrada, mas fica a impressão de ser longe demais do palco do evento. Troca-se por um local lateral, cômodo por ser perto do bar, mas por isso mesmo movimentado demais – e é fácil perceber um lugar vago ali, mais à esquerda. Passa-se ao lugar almejado, já tomado por outros apenas no ínterim de se chegar até lá. Pior, apesar de ser próximo da ação do palco, é barulhento demais. Então você muda novamente, para um local mais ao fundo, na lateral, com uma boa visão e ainda tranqüilo. Você tenta relaxar, mas não consegue deixar de pensar por um instante se a experiência não seria melhor mais à frente, ou mais à direita – sem mencionar a necessidade constante de proteger seu espaço de possíveis invasores.

Quem sabe escolher lugar em um show não seja tão diferente de casar-se com alguém.

Quero dizer apenas que não, por pura pregüiça não tenho saído para ver qualquer apresentação ultimamente.