domingo, 20 de dezembro de 2009

Também a lama é molhada

Talvez eu devesse ter me importado mais. Com toda a falta de tempo, e minha tendência auto-destrutiva, as últimas semanas foram marcantes – no bom e mau sentido.

Além de empregar todas as técnicas possíveis para me atrasar (descobrir discos e músicas na véspera, começar um bom livro dias antes, assistir qualquer porcaria na TV a qualquer hora), a exaustão do fim de ano tomou-me de uma maneira muito maior que o previsível. O resultado não foi muito positivo na minha vida profissional e acadêmica, o que não me deixou feliz, claro. E o que fazer nesses dias para se livrar do cansaço, da raiva e da insatisfação?

Ir ao show do AC/DC em São Paulo, logicamente.

Foi incrível. Os jornais afirmam que é a maior estrutura já montada para um show, porém o que importa é o rock – e com a história da banda, eles poderiam fazer sem cenário algum e ainda seria o show do ano (desde que com vários amplificadores).

Já havia ido a outros shows grandes de rock, mas nunca sozinho na pista – o que confere outra visão sobre a apresentação como um todo. Esta falta de compromisso com um lugar ou com pessoas permite uma circulação maior ao mesmo tempo em que você fica dependente da vontade da massa: se ela quer se aproximar, você se aproxima, se quer ir mais para a direita, você vai junto – pelo menos era assim que eu pensava, pois o resultado foi bem diferente.

Talvez por ser a única apresentação no Brasil, ou a primeira em mais de 10 anos no país (e provavelmente a última, dada a quilometragem da banda), o público de 70.000 pessoas no Estádio do Morumbi comportou-se como parte de um culto. Nada de empurra-empurra ou grande quantidade de drogas e bebidas sendo consumidas: todos queriam absorver ao máximo a experiência de testemunhar um show dos caras. E foi foda. Nem a chuva antes do show ou o calor durante atrapalharam – para se ter idéia do bafo provocado pela multidão, meus óculos embaçavam e volta-e-meia eu precisa tirá-los e balançá-los no alto, vez que era só pulando para sentir ar puro, livre de suor. Por sinal, arrancar a capa de chuva plástica após a apresentação, enquanto o público dispersava, foi quase tão catártico quanto o show.

Entretanto, sempre tem algum pau-no-cu, e talvez por se tratar de São Paulo, as coisas são muito maiores. Exemplo: dois imbecis com as piores camisetas que já vi em shows de rock. Um deles com uma escrita “This is the worst day of my life”. Porra, o quê está fazendo ali então? Vai pra casa encher a cara, pule de um prédio, mas suma! O segundo, difícil saber se era pior, com o verso “Vou-me embora pra Pasárgada”, com direito a caricatura do Bandeira. Olha, não basta ser feia e de escolha “intelectual” discutível, mas precisa ser muito babaca para usar isso em público, ainda mais em uma noite como aquela.

Sem mencionar que aprendi que “suave” é o novo “susse”.

Fora isso, tudo perfeito.

Até estar de volta. A lama não sai fácil.