terça-feira, 22 de maio de 2012

Epifania do dia

Acabo de perceber que minha paixão platônica por Caroline Dhavernas (Jaye Tyler de "Wonderfalls") tem origem remota em minha paixão platônica de infância por Meredith Henderson, a protagonista de "As aventuras de Shirley Holmes" (1996) -  que por sua vez explica minha outra paixão platônica mais tarde por uma garota do meu colégio quando ambos comprávamos volumes de Sherlock Holmes na feira do livro. Impressionante como as três são tão parecidas.

Estamos condenados a nos repetir, mesmo que platonicamente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mamãe sabe tudo

Sábado de almoço em família, a televisão fica ligada para cobrir os possíveis silêncios. Começa uma daquelas propagandas de campanha anti-drogas, com depoimento de um pai:

"Minha filha tinha um grande futuro. Notas boas, promessas na faculdade, bons amigos... Mas daí ofereceram drogas pra ela... Más companhias, doente o tempo todo, sem emprego nenhum, vida vazia..."

Surge uma jovem saudável que se senta em seu colo.

"Ainda bem que não exprimentei né, pai?"

Não resisti diante da verdade:

- Urgh, estou igual a esse depoimento e nem exprimentei nenhuma droga.

- Pois é, devia pelo menos ter experimentado! Passe as batatas.

É o tipo de palavra de apoio que recebo da minha mãe.

domingo, 13 de maio de 2012

Quem é Jen Why?


Wonderfalls é uma das melhores séries já criadas. Teve vida breve: somente treze episódios em 2004 – a Fox não acreditava em seu potencial e tirou do ar ainda no episódio quatro. Não podemos culpar completamente o canal. A série girava em torno da jovem Jaye Tyler que passa a escutar “ordens” de objetos com faces de animais – assim, sem qualquer explicação. Ainda, sua montagem era acelerada, não raro com tela dividida, edição que “voltava a fita” e flashbacks – condutas ousadas em era pré-Lost. O canal não entendeu nada.

O time de envolvidos era incrível: criada por Bryan Fueller (dos também geniais, e de vida breve, Pushing Daisies e Dead Like Me) e Todd Holland (que tem um tino sensacional para comédia e volta e meia dirige episódios de 30 Rock), com um elenco afiadíssimo e bastante entrosado liderado por Caroline Dhavernas (um bom motivo para se amar o Canadá).

Os diálogos são afiados, ágeis e graciosamente polissilábicos – qualidades raras mesmo sozinhas na televisão aberta americana – e os personagens são muito bem desenvolvidos. Jaye Tyler (Dhavernas), principalmente. De vinte e poucos anos, diploma de boa faculdade debaixo do braço, ela passa o dia trabalhando em uma loja de souvenirs em Niagara, subalterna de um garoto mais novo e patético, voltando para seu trailer aconchegante e evitando seus familiares, todos bem-sucedidos. Contudo, ela é feliz. Todo seu suposto fracasso é cuidadosamente calculado.

Jaye tem uma família amorosa, é inteligente, capaz, bonita e autoconfiante. Porém, prefere ter um trabalho que não a desafia, com pessoas que ela nunca verá novamente (turistas vêm e vão), viver em uma casa com rodas que não sai do lugar e evitar contatos profundos com homens ou fazer novos amigos. Paga suas contas e tem seus prazeres. Para quê complicar? Trata-se de uma garota ácida, espirituosa e arisca, que não gosta de se envolver e que conseguiu criar um ambiente para si “livre de stress e de qualquer expectativa”, como afirma uma personagem. E nisto entram os seres inanimados animados como macacos de bronze e pinguins de brinquedo que passam a lhe irritar até que Jaye faça o que mandam. E isto a faz se abrir para a vida, aos poucos.

É uma comédia, aliás. Muito boa.

Em determinado episódio, discute-se exatamente quem é Jaye. “É a quintessência da Gen Y”, diz uma, “são jovens abençoados com educação e oportunidades que não sofrem com adversidades, as atravessam”. E ainda continua com “nunca vivendo todo seu potencial, mas nunca se machucando”. A dúvida que atravessa a série e atinge em cheio o espectador é “Por quê?”.

Realmente, machucar-se não está entre as preferências de minha geração, muito menos das que a sucedem. Não abrimos mão de nosso conforto. Provavelmente a gente deixe de sentir muita coisa nesse processo. O conforto, acima de tudo, conforma.

Levantar, lutar por alguma coisa e, especialmente, escolher alguma coisa merecedora são tarefas difíceis e dolorosas – e a série mostra indiretamente isto.

No final das contas, ao seguir as ordens de leões de cera e iguanas de pelúcia Jaye tem a sorte de ser poupada de escolher.

Nós não.

(Mas sempre poderemos escolher ver Wonderfalls. No conforto de nossos lares, claro.)

Abrir-se para a vida, percebemos com ela, não é fácil, porém tem suas vantagens.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Obituário de uma biblioteca pública

Lendo um exemplar de uns meses atrás (nº 8) de Cândido, jornal da Biblioteca Pública do Paraná, reparei no perfil de um "frequentador assíduo da Biblioteca". Atenção para o trecho:

"Leitor eclético, Fulano vai de Veja à IstoÉ, mas dispensa a literatura de ficção. 'Não me aventuro muito por essas bandas, não.'"

Nem Jesus salva. Nenhum deles.