quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não vá.

- Cara, não vá.

Depois da terceira vez que escutei isto de três pessoas diferentes, decidi que precisava mesmo ir.

Após meses sem notícias, soube que a última garota por quem senti alguma coisa estaria em determinado bar em uma sexta-feira à noite. Existiram garotas depois, mas nenhuma me fazia tão calorosamente estúpido como ela.

Fiquei surpreso quando a vi. Seus cabelos negros, que sempre me pareceram brilhantes, estavam sebosos. Antes, possuía um estilo para suas roupas entre o inesperado e o discreto, agora ela estava vestida em uma combinação infeliz de bege-cinza. E seria possível que tivesse engordado? Nunca havia notado a dobra na cintura sobre a calça. Chamar seu nariz de exótico, como eu fazia, pareceu-me uma negação da realidade – e como saía tão bem em fotos?!

Ela estava feliz com seus amigos. Conversamos brevemente, sem lembrar o passado. Teríamos mudado tanto em tão pouco tempo? Talvez seja mais assustador pensar que não mudamos em nada.

Após o choque da realidade, não resta nem a saudade de um amor.

domingo, 17 de junho de 2012

Três primárias

Marquei de sair com uma garota com convicções religiosas. Tudo decidido para um “quase-encontro” no final da tarde do dia seguinte, em um lugar relativamente neutro mas aconchegante, quando recebo uma mensagem alterando para um almoço em um restaurante conhecido dela. Aceitei. Se já estaria desrespeitando várias regras pessoais ao sair com ela, um “encontro” em pleno almoço seria apenas mais uma.

Ela estava com um vestido amarelo-pálido um pouco otimista para a temperatura e foi muito bom revê-la depois de tanto tempo. Não me lembrava de ela ser tão calorosa ou mesmo empolgada com conversas e a vida. A sutileza exigida em um primeiro encontro foi elevada devido ao lugar e, principalmente, a hábitos ainda um tanto secretos para mim. Assim que fomos servidos, por exemplo, ela inesperadamente abaixou a cabeça e fez o que depois descobri ser uma breve oração, enquanto eu esperava disfarçando o espanto. Ainda bem que raciocinei antes de falar em um tom mais alto “você está bem?!”.

O mais surpreendente foi o fato de eu ter realmente me divertido com a presença dela, seu tom animado e curioso e o jeito tímido de me perguntar certas coisas. Nos despedimos com a possibilidade de um novo encontro na semana seguinte, em um final de tarde, “com mais tempo”, ela disse.

Tempo é tudo o que tenho e não sei oferecer.

Mais tarde, no mesmo dia, fui sozinho a um bar apoiar uns amigos com banda. Estava andando por lá e uma garota puxou meu braço sorrindo:

- Não vai me dar oi?

Após dois longos segundos, minha cabeça recebeu oxigênio o bastante e soube quem era. Filha de amigos de meus pais, ela agora tem faculdade, profissão e um cabelo ruivo-cereja. E simpatia de sobra. Tivemos uma conversa breve e prazerosa, eu fiquei feliz por revê-la e poderia dizer que o mesmo era válido para ela. Acabei convidado para uma festa dela em alguns dias.

Tenho tempo. Seria grosseiro não ir, certo?

Caminhando pelo mesmo bar, outra surpresa. Reconheci uma antiga colega de colégio, com quem conversava bastante e que perdi completamente o contato em um daqueles afastamentos que tem origem na troca de escolas antes da era de redes sociais. Sempre fomos parecidos em várias coisas e agora estamos em hiatos parecidos na vida. Ela usava um anel de resina azul na mão direita que me lembrava do nosso antigo uniforme. Acabamos conversando a maior parte da noite, rindo de erros antigos, vendo quem tinha menos notícias de nossos ex-colegas e comparando os possíveis planos para os próximos meses. Ao me despedir, ela disse “não suma hein! Sabe, foi realmente bom te reencontrar”.

Tempo é uma coisa estranha...

Estes três encontros ocorreram três meses atrás. Nada deu certo. Quem ganha primária não garante eleição.