domingo, 12 de julho de 2009

Praia vazia

Eu ouvia as ondas quebrarem, sentia a areia fria nos pés. Não havia outra pessoa à vista.


- Bandini, ninguém mais vem aqui.


Lembro quando eu percebi isso. Estava na oitava série. Minha praia tinha esvaziado e eu passei a ser seu único frequentador. Bom, as pessoas vão a outras praias cedo ou tarde, pensei.

Com o tempo encontrei outros naúfragos ou eu também mudei de praia e não percebi, não faz diferença.


Não pensei mais no assunto. Até alguns dias atrás.

A maré está mudando diante de meus olhos. É sutil, mas posso perceber. Conheço o mar daqui.

E eu não sei se vamos ficar aqui mesmo ou se vamos todos nos mudar. Sei que não quero ficar sozinho na praia de novo.

what ever happened?


Eu tenho uma amiga que não via há anos. Ela foi determinante em minha vida. Entre outras coisas, me ensinou que uma existência sem piadas não conta, que não se deve fazer concessões para ser compreendido por outros, que não é preciso se preocupar com tudo, ou com qualquer coisa, o tempo todo. Muito do meu humor é consequência da influência dela, bem como parte de minhas reações frente a certas situações. "Foda-se", dizia. Eu ainda digo.


Não lembro como perdemos contato. Lembro que fomos para colégios diferentes e passamos a andar com pessoas diferentes. Acontece. Na última vez em que nos vimos, ficamos em um silêncio que não era constrangedor, mas apenas insistente. Tínhamos carinho um pelo outro, mas não era mais tão divertido ou profundo. Acontece.


Trombei com ela em um bar semana passada. Eu estava com uns amigos da faculdade, ela com a mesma amiga dos tempos de colégio que andava com a gente.


Estava realmente feliz por vê-la, saudade mútua. Conversamos. A amiga acabou sumindo com um cara e nós aproveitamos para falar a sós em uma mesa. Ela mais pra lá que pra cá e eu alegrinho.


Lembrávamos do passado e contávamos o que aconteceu com cada um nos últimos anos. Ela tocava nas minhas mãos às vezes. Acontece, ué. Estávamos de volta, como se nenhum dia tivesse passado desde os tempos áureos. Bem próximos.


Ela pegou na minha mão e ficou examinando.


- Você continua sem cortar essa unha.


Eu ri.


- O pior que eu ia cortar hoje, mas pensei ah, ninguém vai reparar nisso. Mas você já sabe que ela encrava se eu não deixar essa barra.


Houve uma pausa.


Então eu lembrei de um assunto, alguma coisa inútil que era engraçada. O tópico entrou com naturalidade, ela respondeu como de costume, afinal a gente sempre engrenou assuntos sem coesão aparente.


Não lembro quando as mãos se soltaram. Pensei simplesmente que a inspeção havia acabado.

três apostas

Eu não aposto. Em nada. Nunca. Simplesmente não acredito nisso. Se eu estou certo, isso já me basta. Acho até cruel ganhar em cima da derrota alheia. Também não gosto de jogos de azar ou coisa parecida, gosto demais do meu dinheiro para confiar em algo tão abstrato quanto a sorte.

Até que semana passada eu ignorei tudo isso - três vezes.

*
O pessoal do escritório (nunca na minha vida imaginei que usaria "o pessoal do escritório") estava organizando um bolão para a mega sena acumulada. Entrei. Eram 54 (?) milhões, é preciso dar uma chance a sorte, pensei. Como vocês podem perceber apenas pelo fato de eu estar escrevendo aqui e não me divertindo em Oslo, perdi.

**
Eu e aquela minha amiga do post passado entramos em uma discussão pra ver quem tinha escrito "A minha menina". Ben Jor, dizia ela. Claro que não, é dos Mutantes mesmo!, Óbvio. Nossos amigos se dividiram e botaram lenha na fogeira: "tô com ela!" ou "mas tem jeitão de Mutantes". Sei que ela conseguiu me fazer apostar, coisa inimaginável. Valia uma cerveja, só uma porque eu ainda não esqueci completamente quem sou. Maldito Jorge Ben Jor... Perdi.

***
Saí do trabalho conversando com aquela menina que eu falei, um pitéu. Como a conversa estava boa, saímos do prédio e ninguém queria cortar. Chovia uma garoa lenta, fina e gelada e a rua do escritório encana mais vento do que eu poderia supor. Convidei ela pra tomar um café comigo, fica logo ali na esquina. Ela recusou, vai ficar tarde. Eu te levo em casa, é caminho. Não, não. Continuamos conversando. Por mais vinte minutos - o que naquele tempo significa uns 50. Mas não nos incomodávamos com a chuva. Nossas cabeças formaram um arco e entramos em um ritmo de conversa inteligível para quem passava pela calçada estreita. Quando parecia que tínhamos passado uma hora falando, ela disse que precisava ir, mesmo. Ofereci mais uma vez uma carona, não é fora do caminho, mesmo.

Eu entendi. Perdi mais uma. No bolso dói menos.