sexta-feira, 13 de agosto de 2010

my baby, my darling / I’ve been taking a beating


- Lembra da Renata? Que nunca pegava carona comigo?

- Lembro. Ela preferia se arriscar a pegar gripe suína a entrar no carro com você.

- É, é, exatamente. Você continua detalhista.

- Não esqueço fatos importantes.

- Bem, ela me ligou na semana passada.

- Sério?

- Sim. O pessoal do lugar em que a gente trabalhava combinou de jantar e depois ir para um bar na sexta.

- Legal. Ela ligou para te convidar?

- Não, eu já estava sabendo, nenhum de nós trabalha mais lá. Ela ligou para pedir uma carona.

Sempre gostei da Renata. Empatia imediata – e, por alguma razão estranha, combinamos juntos. Ela é morena, com os cabelos lisos na altura dos ombros, divididos no meio, parecendo sem ter grandes vaidades. Ela também é dona de sobrancelhas fortes e um olhar enigmático, que consegue ser tão caloroso quanto arisco. Eu sou moreno de cabelo espetado e olhar sincero, tão caloroso quanto estúpido. É realmente estranho, mas combinamos. Durante o tempo em que trabalhávamos juntos, nossos colegas várias vezes tentaram insinuar alguma coisa. “Vai lá, ela é afim”. E eu trazia de volta cubos de gelo. Ela sempre foi simpática e nos tornamos amigos, porém sempre havia uma desconfiança dela comigo. A ligação dela na semana passada me confundiu.

Fomos juntos ao tal jantar, a conversa sempre boa no carro, eu tinha diversas coisas para contar de uma viagem e ela de seu trabalho novo. Chegamos ao restaurante e sentamos lado a lado na mesa. Mais boas conversas, desta vez também com todos. Após o jantar, eu estava cansado. “Ah, mas vamos para o bar, você tem que ir, você vai gostar”, ela me disse.

Sempre fui uma pessoa maleável.

“Mas, claro, eu não faço questão de ir. E o Marcos pode me dar uma carona pra casa depois, não precisa se preocupar, viu?”.

Bar cheio, todos felizes por estarem ali.

“Pô cara, por que você não tenta nada? Ela tá bonitona...”

“Bandini, sou amiga dela, vai por mim, não fica complicando não.”

E a Rê: “vem, vamos dançar!”

Fui. A cada vez que me aproximava, um passo para trás fora do ritmo, um pescoço esticado na direção contrária, desconfiança.

Decifra-me ou não te devoro.