sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Você sabe que precisa rever sua vida amorosa se esteve pedindo conselhos para sua amiga crente em como chegar em uma guria Testemunha de Jeová.

Sou uma usina de ideias geniais.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reminiscências rasas

Quando eu estava na sétima série meu colégio realizou uma cápsula do tempo com todos seus alunos e funcionários. Fui receber minha carta na semana passada.

Confesso: estava bastante empolgado para voltar lá e receber a minha. O primeiro impacto é ver que o colégio mudou completamente nestes anos. Os caminhos até o prédio, os toldos novos, portas trocadas, disposições novas de vários departamentos, salas novas, até a capela mudou de lugar. Mesmo o piso do pátio, para meu espanto, foi trocado do vinil vermelho para pedras azuis e cinzas! Nisto me lembraram que trocaram o piso ainda dois anos antes de eu sair de lá.

Talvez a memória de um colégio seja feita de um tempo mais distante que o real.

Entre as surpresas, além da enorme quantidade de gente que realmente foi, estão aquelas que mostram que nada mudou: continuam sem ligar o ar-condicionado no auditório lotado; o mestre de cerimônias/apresentador/cantor continua o mesmo, com as mesmas canções católicas – e a mesma jardineira; o coral e o grupo de teatro continuam daquele jeito; o evento atrasa quase uma hora e a cerimônia dura o dobro do que você previa.

Eu esperava algo como uma reunião com todos os estudantes antigos e colegas, em um clima de alegria mútua e, vá lá, comunhão com o próximo. Estive enganado. Não sei porquê cargas d’água esperava que pessoas que eram metidas ou intragáveis tivessem crescido, ou que os alunos tímidos ou anti-sociais se tornariam simpáticos, mas eu esperava que sim. Todos estão mais ou menos iguais – alguns com barba, como o meu caso. Foi uma manhã tão estranha. Talvez seja melhor deixar os tempos do colégio nos tempos do colégio.

Li minha carta. Fiquei absolutamente surpreso. E eu pensava que me lembrava do que tinha escrito.

Primeiro que vi que estava diante de um cara legal. Mas legal mesmo. Que se importava verdadeiramente com o que estava a seu redor. Que escrevia bem. Que colocava os amigos e a família à frente das coisas. Que lia. Que questionava. Que mostrava preocupação com o futuro. E esperto (tem um trecho em código! E eu lembro perfeitamente como decifrá-lo!).

Respostas para algumas questões feitas por mim, aos trezes, para mim, hoje:

- “O homem já pisou em marte?”
Não. E não sei de onde veio a impressão de que teria pisado.

- “Continuo indo muito ao cinema?”
Sim.

- “Eu dirijo bem?”
Sim!

- “Nós viajamos para a Itália?”
Não, mas fomos para a Holanda, que é bem mais legal (e Paris).

- “Nós fizemos estágio na MTV?”
Não, graças a Deus.

- “As pessoas estão dando mais atenção para as outras?”
Você continua fazendo sua parte.

-“Nós escrevemos?”
Sim, ainda que irregularmente – em vários sentidos disto.

Segundo porque é impressionante ver como certezas mudaram desde então. Casais que eu descrevi como felizes se separaram. Pessoas que eu não esperava que morressem, morreram. Nomes que eu listei como amigos, perdi contato. Entretanto, boa parte dos meus maiores amigos de hoje estão listados na carta. E somos ainda mais próximos agora. Tenho novas certezas.

Eu lembro bem que esperava que aos meus dezessete, dezoito, eu seria bastante diferente. Acreditava que as pessoas mudassem, que a personalidade se definia apenas lá pela metade da faculdade. O dia da carta sepultou de vez essa crença. Eu continuo muito próximo de quem eu era na sétima série, bem como meus antigos colegas, como pude constatar.

É mais fácil mudar paredes inteiras de um colégio enorme que quem você é.

Claro, os dias provocam alterações em cada um. Creio que eu era mais sábio, talvez mais esperançoso. Confesso que fiquei feliz ao ver o que fiz no tempo que passou. Pode não ter sido espetacular, mas foi da maneira que eu quis, por escolhas minhas. Não são muitos os que podem dizer tal.

Todos foram convidados a escrever mais uma carta, no mesmo dia. Agora é esperar até a cápsula nova ser aberta. Pena que a carta que fiz hoje não chega aos pés da que eu fiz aos treze.

Superar o passado é uma tarefa pra hoje.

domingo, 19 de setembro de 2010

Fechado para balanço

Então que estou às vésperas de momentos importantes da minha vida. Nenhuma novidade até aí. Pensei que teria mais tempo para me decidir, mas meu processo de tomada de decisões nunca funcionou com o fator tempo.

E as decisões que preciso tomar me entediam profundamente. Sim, meu futuro me entedia – ou seja, eu estou me considerando entediante. Ironicamente, isto é interessante, já que eu sempre fui um assunto de que eu gosto.

Tentando recuperar ou aprender alguma coisa, dei uma olhada nos textos antigos daqui. Não sem surpresa, descobri que a esmagadora maioria deles é sobre relações com garotas. E que, destes, todos são relatos de diferentes graus de fracassos.

Escrever (e ler) sobre fracassos é sempre melhor que sobre sucessos. Eles são mais divertidos e ensinam mais. Mas quais as lições dos meus? E o que eu faço do resto da minha vida?

Preciso fazer meu dever de casa. A começar: devo procurar estas respostas?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

my baby, my darling / I’ve been taking a beating


- Lembra da Renata? Que nunca pegava carona comigo?

- Lembro. Ela preferia se arriscar a pegar gripe suína a entrar no carro com você.

- É, é, exatamente. Você continua detalhista.

- Não esqueço fatos importantes.

- Bem, ela me ligou na semana passada.

- Sério?

- Sim. O pessoal do lugar em que a gente trabalhava combinou de jantar e depois ir para um bar na sexta.

- Legal. Ela ligou para te convidar?

- Não, eu já estava sabendo, nenhum de nós trabalha mais lá. Ela ligou para pedir uma carona.

Sempre gostei da Renata. Empatia imediata – e, por alguma razão estranha, combinamos juntos. Ela é morena, com os cabelos lisos na altura dos ombros, divididos no meio, parecendo sem ter grandes vaidades. Ela também é dona de sobrancelhas fortes e um olhar enigmático, que consegue ser tão caloroso quanto arisco. Eu sou moreno de cabelo espetado e olhar sincero, tão caloroso quanto estúpido. É realmente estranho, mas combinamos. Durante o tempo em que trabalhávamos juntos, nossos colegas várias vezes tentaram insinuar alguma coisa. “Vai lá, ela é afim”. E eu trazia de volta cubos de gelo. Ela sempre foi simpática e nos tornamos amigos, porém sempre havia uma desconfiança dela comigo. A ligação dela na semana passada me confundiu.

Fomos juntos ao tal jantar, a conversa sempre boa no carro, eu tinha diversas coisas para contar de uma viagem e ela de seu trabalho novo. Chegamos ao restaurante e sentamos lado a lado na mesa. Mais boas conversas, desta vez também com todos. Após o jantar, eu estava cansado. “Ah, mas vamos para o bar, você tem que ir, você vai gostar”, ela me disse.

Sempre fui uma pessoa maleável.

“Mas, claro, eu não faço questão de ir. E o Marcos pode me dar uma carona pra casa depois, não precisa se preocupar, viu?”.

Bar cheio, todos felizes por estarem ali.

“Pô cara, por que você não tenta nada? Ela tá bonitona...”

“Bandini, sou amiga dela, vai por mim, não fica complicando não.”

E a Rê: “vem, vamos dançar!”

Fui. A cada vez que me aproximava, um passo para trás fora do ritmo, um pescoço esticado na direção contrária, desconfiança.

Decifra-me ou não te devoro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dancing in the dark


Já havia deixado meu carro e estava levantando de pegar o cartão de estacionamento do chão, quando vi um carro se aproximar à minha frente. Escutei uma buzina quando passou por mim e o tal carro parou. Era cinza e já com vários anos, de linhas quadradas e vidros escuros. Um carro masculino.

Para meu espanto, uma das garotas mais adoráveis que conheci abaixou o vidro preto do motorista e, após um oi, me chamou até lá. Fazia meses que não a via. Já não a procurava com os olhos pelos corredores, nem com saudade pela memória. Era passado. Acima de tudo, fiquei surpreso por encontrá-la – ainda mais no estacionamento, naquele carro. Nunca freqüentamos os mesmos horários. Fui até ela e começamos a conversar, como se tudo aquilo fosse rotina. Não demorou até que dois carros parassem atrás de nós esperando a passagem ser liberada. Nos olhamos, parecia que deveríamos nos despedir – e assim, passar mais alguns meses sem nos esbarrar.

- Você quer uma carona? – ela me disse, sorrindo desbocada.

- Quero sim – e dei a volta até a porta do passageiro. Pude constatar o olhar de surpresa que recebi. Ela não teve tempo de impedir ou reagir e tentou rapidamente limpar o assento – não lembro a última vez em que vi tantos recados, bilhetes, recibos e pedaços de papel juntos. Após ela tacar tudo para o banco traseiro, pude me sentar, já ao som de buzinas dos impacientes de trás.

Foi uma viagem curta, de menos de 20 metros. Não lembro mais do que conversamos, nada profundo ou muito convidativo.

- Você dirige bem.

- Mesmo? Obrigada.

E nisto ela acelerou a ré e, felizmente, o carro foi parado bruscamente pelo cano de segurança no chão da vaga.

- Ok, nem tão bem.

Saímos do carro sem demora e fomos até a escada. Ela fez sinal para pegarmos o elevador.

- Que bobagem! Vem, vamos por aqui.

Subimos as escadas, a conversa amigável, mas com uma nuvem acima de nós. Eu sabia que era o encanto dela, mas fazia de conta que não era nada. Se eu não ligasse, talvez não sentisse. Nossas perguntas e respostas sempre parecem uma dança de compasso esquisito: um passo para frente, dois para trás, um para esquerda, um para trás, quatro para frente, dê a impressão que vá para a direita e vá para a esquerda. Não sabemos dançar juntos.

- Bem, eu fico por aqui. – falei, mas eu não saí. Continuamos com nossa dança cega mais um pouco, mas eu já não queria participar.

Com a pausa que se seguiu, consegui me surpreender novamente. Ela dobrou o cotovelo, levantou sua mão à altura de seu ombro, fechou o punho – e o lançou, solto, no meu ombro.

Não tive dúvidas: fiz o mesmo. Dobrei o cotovelo, levantei minha mão à altura de meu ombro, fechei o punho e o lancei, solto, em seu ombro.

Ela foi um pouco mais para trás que eu, movida pelo susto e não por minha força.

Nos despedimos, estampado em nossos rostos incompreensão (eu) e surpresa (ela).

Preciso aprender esta dança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A nod is as good as a wink to a blind horse

Com uma guria, esperando o filme começar:

- Vou colocar mais sal na pipoca, tudo bem?

- Ah, pode ser. É que...

- O quê? Você não gosta de sal?

- Não... Hipertensão, sabe?

- Sei. Daí tem que fazer sexo.

- Se você insiste...

Sempre peço minha pipoca com sal extra.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

leave this academic factory


Na minha visão bastante pessoal de valores, acredito na importância de ritos de passagem. E acredito que shows de rock contam como forma de um. Para marcar o fim de dois ciclos recentes em minha vida, fui a dois deles.

Primeiramente, no final de março, embarquei para São Paulo para conferir Franz Ferdinand ao vivo. Quatro dias antes da viagem, deixei meu estágio após mais de um ano de trabalho. Foi meu primeiro emprego.

Eu aprendi muito por lá, mas, verdade seja dita, poderia ter deixado o local antes – já tinha visto de tudo antes de um ano, mas eu adorava meu trabalho. Mesmo. Ao contrário de minhas expectativas, meus colegas eram solícitos e bem-humorados, meus chefes acessíveis e bons de papo, a infra-estrutura era ótima, tinha acesso privilegiado a informações interessantes e a um conteúdo pouco ou nada visto na faculdade e, acima de tudo, era um trabalho recompensador: sempre saía – e muitas vezes após o horário do fim do turno – com a forte impressão que tinha feito uma diferença naquele dia.

Como a maior parte de minhas decisões, ela se cristalizou da noite para o dia e, apesar de tudo, tive a certeza que já era momento de deixar o estágio. Sim, fiquei um pouco triste, afinal era algo que eu gostava e fiz vários amigos lá, mas não me arrependi em momento algum. Sempre soube, quanto a qualquer coisa, que se acabou, acabou. E se é assim, é preciso seguir adiante. Foi o que eu fiz quando percebi que era o momento.

Por uma incrível coincidência, o show do Franz caía na semana seguinte, o que se tornou a ocasião perfeita para lavar a alma e marcar o fim de um ciclo, por assim dizer.

Desde a primeira vez em que os ouvi, Franz Ferdinand se tornou uma de minhas bandas favoritas. Sempre quis ver uma apresentação deles e nas últimas ocasiões em que estiveram no Brasil fui impedido por vários fatores de ir. Esta não perderia por nada.

Eis que me juntei a quatro amigos e partimos no mesmo dia que o show para São Paulo, de avião.

Cabe um comentário aqui: é incrível pegar um avião sem qualquer tipo de mala. Sem nada, só documentos, grana, celular e ingresso nos bolsos. Liberdade, ainda que tardia.

Claro que nem tudo sai como planejado – para meu completo espanto. Apesar de nossa (ok, minha) organização prévia, não controlamos o tempo ou o tráfico aéreo, o que resultou em um atraso colossal. Ao invés de chegarmos a SP às 16 horas, desembarcamos às 19 horas, sendo que a abertura da casa era às 20 horas.

Honestamente, eu nunca vejo ou faço qualquer questão de conferir um show no gargarejo, colado no palco. Mas o do Franz eu fazia. Assim, chegamos correndo na cidade, pagamos dois táxis e chegamos em pouco tempo no Via Funchal – que, logicamente, estava com uma fila imensa. Contudo, com um pouco de paciência e elasticidade de valores morais, conseguimos ser um dos primeiros a entrarem.

Cabe aqui outro comentário: como paulista é um povo pau-no-cu. Conheço vários, mas as pessoas que estavam ao nosso lado são de uma categoria à parte mesmo. Um grupo, por exemplo, insistiu em permanecer sentado até o início do show de abertura. Ou seja, vinte pessoas, equipadas com óculos Wayfarer, xadrez, calças coladas e gritinhos, que se recusavam a levantar e abrir espaço para a enorme quantidade de gente que não parava de chegar ou empurrar. Bacana.

Anacrônica, banda daqui da cidade, abriu a noite e fez bom show, mesmo enfrentando o pouco caso e a frieza paulistana.

Pontualmente, às 22 horas, Alex Kapranos e seus comparsas entraram no palco e, cara, que show.

É verdade, entraram com o jogo ganho, mas nem por isso deixaram de se esforçar. E tome-lhe sucessão de hits. São poucas bandas do século XXI com tantas músicas conhecidas que podem fazer uma apresentação sem dar tempo ao público de respirar.

No meu caso, isto foi bem literal. Sem espaço para lufadas muito profundas de ar ou para colocar os braços para baixo, passei pelo maior aperto de minha vida. Pra começar, não há espaço pessoal ou pudor em tocar, na realidade colar, no próximo – e isto me inclui. Passei o show inteiro com os braços ao alto (pois não havia espaço para abaixá-los) e quando preciso (pois isto é incrivelmente cansativo) os descansava nos ombros ao lado – que odiavam, vez que era um peso a mais em um lugar já sujeito a muita pressão.

Durante a apresentação, perdi a conta do número de pessoas que desistiram de estar ali e foram retiradas pelos seguranças. Mais de trinta, fácil, a grande maioria mulheres. Realmente, gargarejo não é lugar de menina.

E o calor, meu Deus. Nunca suei tanto em minha vida. Glândulas nunca utilizadas antes me deixaram mais encharcado que alguns banhos de chuva que já tomei e transformaram o abraço que dei nos meus amigos (que desistiram cedo de ficar na frente) ao final do show em uma das maiores provas de amizade que já presenciei.

Com um tremendo set list, que incluía músicas que adoro e jurava que não iriam tocar (como All my friends, Tell her tonight e Michael), abriram com a ótima Bite hard, já gastaram Take me out no comecinho, como se nem fosse grande coisa, e fizeram uma versão demolidora de This fire (minha favorita e, com imparcialidade, a melhor da noite).

Saí completamente feliz e realizado do show, encharcado e nunca me sentindo tão exausto, em um torpor de alegria e cansaço quase débil.

Franz encerrado, partimos para um McDonald’s 24 horas e tentamos nos recuperar lá, sem muito sucesso. Terrivelmente cansados, não tínhamos para onde ir. Não fizemos reservas – nem tínhamos verba – para hotéis, nem tínhamos amigos para fornecer casa, sofá ou cama – embarcar para qualquer bar ou balada estava fora de cogitação, apesar de eu ter feito a proposta, que foi afastada pelos meus companheiros tão demolidos pela noite quanto eu. Assim, nosso único compromisso era o vôo de retorno, em algumas horas (em oito horas, para ser exato).

Resultado que decidimos ir mesmo para o aeroporto. Detalhe desconhecido: Congonhas fecha de madrugada. O saguão fica aberto ao público (e só), mas fica tudo deserto e com o ar-condicionado desligado (desumano para dizer o mínimo). Beleza, nada que algumas cadeiras juntas da praça de alimentação não resolvam, o que não significa que dormi bem ou que descansei qualquer coisa.

Lições aprendidas com o show: gargarejo não vale o esforço. Nunca mais. Fiquei incrivelmente feliz por ter feito isso no Franz, entretanto – terminei, já algumas músicas antes do bis, exatamente na frente do vocalista, com uma garota de 1,5 metro entre a grade e eu. Obviamente, esta garota não virou minha amiga.

Outra lição importantíssima: não há dinheiro no mundo que pague um chuveiro e uma cama após o show. Daria um braço para ter um porto que não fosse o banheiro de uma rede de fast food ou quatro cadeiras de metal unidas. Sinceramente, se de avião já é dose, não quero nem imaginar fazer bate-e-volta de ônibus em excursões. Sério, qualquer hotel é barato – especialmente ao levar em consideração que peguei uma gripe fortíssima por freqüentar o aeroporto ainda bem molhado, sem troca de roupa, e com as defesas baixas após o desgaste de energia no Via Funchal. Por fim, ainda houve outros aprendizados como “não, eu não controlo aeroportos”, “Congonhas fecha durante a madrugada” e “certifique-se de levar amigos”.

Em suma, impossível evento melhor para marcar meu recente desemprego.

Um dos motivos para deixar meu trabalho foi também a proximidade da data de entrega de minha monografia. Como já mencionei aqui, foi um processo sofrido. Logo, nada mais adequado que ir a outro show. Como rito, que seja.

Na semana seguinte a entrega final, Placebo esteve na cidade e consegui decidi ir de última hora. Conhecia algumas músicas deles e gostava destas, mas nunca foi uma banda pela qual dei grande atenção. Nunca havia comprado um cd deles, por exemplo.

Hoje, porém, posso afirmar que o Placebo passou pelo teste e compraria um disco deles sem problemas. Contrariando minhas previsões – e imagino também da pequena platéia presente – a banda realizou um show forte, redondo e, na falta de palavra melhor para o caso, muito “macho”.

Mesmo sempre tendo flertado com a androgenia e o glam, fizeram uma apresentação sóbria, com uma pose de distanciamento “cool” – devidamente quebrada pelo calor do público, formado principalmente por fãs que sabiam cantar quase todas as músicas – para meu constrangimento.

Tendo por apoio um telão de LED com imagens psicodélicas ao fundo, a banda fez um show que passou rápido, já abrindo com For what it’s worth (simplesmente a melhor música deles dos últimos anos), com o público ainda frio.

Impressionante mesmo foi Meds. A platéia foi a um delírio tal que despiu a banda da pose, fazendo-os inclusive parar a canção no final para escutar os gritos e – pasme – sorrir várias vezes para o público. Só o começo de uma seqüência pré-bis demolidora (Meds, Song to say goodbye, Special k, The bitter end).

Ainda assim, para mim o melhor da noite foi Song to say goodbye. Se você enxerga shows como uma experiência possivelmente transgressora, esta música cumpriu o requisito. Algo só explicado pelo momento mesmo: a canção anterior foi excelente, os músicos estavam animadíssimos, platéia em chamas, guitarras altas, coração acelerado, adeus consciente à monografia.

Engraçado como saí do show como o oposto ao do Franz. Um dos raros em que deixei o lugar me sentindo mais forte e disposto de que quando entrei, como se tomado por uma força que eu já tinha mas que é difícil de ser acessada sozinha. Tão bom quanto sair exausto é sair renovado.

É pra isso que um show serve.

domingo, 18 de abril de 2010

Monoteísmo


Terminei minha monografia há poucos dias. Pessoa organizada que sou, deixei acumular muitas coisas para o último minuto, mas salvei os e-mails que enviei para alguns amigos a respeito. A seguir, sem reviões ou coisa parecida, a via crúcis:

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Quarta-feira, 31 de março de 2010 8:29:00

Olá caras,

daqui a 4 minutos (oficialmente) eu tenho uma prova. Por causa dela e da mono, fiquei acordado até as 3:00, mas isso não rendeu em muita coisa. Talvez pq desde sexta-feira eu esteja morrendo de gripe (será que os fatos de ter transformado quilos meus em água no show do franz e ter dormido no saguão do aeroporto têm relação com isso?). Ou seja, passei todo o fim-de-semana de cama, sem conseguir pensar ou ler qualquer coisa (nem Veja entrava na minha cabeça). Estou um pouco melhor, obrigado, o que não significa que houve algum tipo de represa para o rio que virou meu nariz ou alívio na garganta. Vale lembrar que minha entrega da mono é no dia 8 de abril, deve ter cerca de 50 páginas. Hoje é 31 de março e eu tenho cerca de 27 prontas.

Pergunte-me se estou calmo.

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Quarta-feira, 7 de abril de 2010 23:06:39

Ok,

50 páginas para fichar para amanhã valendo nota + prova amnhã, reflexiva, de hermenêutica + prova amanhã, com sérias intenções maliciosas do professor, de processo administrativo sancionador + prova de processo do trabalho sexta + escrever ainda 20 páginas da mono até sábado.

Arrependimento? Apenas não ter dado uma vela de 7º dia para cada um de vcs na sexta passada. Seria útil agora.

Resignação é o pior sentimento do mundo.

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Sexta-feira, 9 de abril de 2010 18:31:43

PEÇAM A NOVENA!!!

Plantão mono: na biblioteca da fac, lendo 14 livros ao mesmo tempo (juro!). Faltam 19 páginas.

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Sábado, 10 de abril de 2010 5:43:51

OK, são 5:39.

Eu já passei (só aqui em casa, após pelo menos mais uns 7 que eu não trouxe da faculdade) por 8 livros (4 deles muuito encardidos). Faltam, substancialmente, 3. Grandes.

Estou com 30 páginas, quase na 31ª.

Pretendo entregar com 42.

E então "montar" a mono (aquela coisa de índice, numerar páginas - o que odeio), chegar na facul, imprimir e protocolar. ANTES DO MEIO-DIA.

Respire fundo.

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Segunda-feira, 12 de abril de 2010 23:27:37

Plantão mono: O DRAMA NÃO TEM FIM!!! como dizia al pacino, quando eu penso que estou fora, they pull me back in. Sério. Muito cu na mão. Disseram que não pode alterar texto na versão final (pra quê versão final então caralhoo??!!) - o que, olha, não é bom. Pra completar, meu orientador DESAPARECEU. Tudo bem, é só o único momento em que eu preciso dele. Ainda, por ter de entregar em brochura, que leva três dias úteis para ficar pronta, preciso entregar para imprimirem AMANHÃ.

E eu tenho PROVA amanhã, com o pior tipo de professor: um velho que julga que minha geração está perdida e, especialmente, que minha sala não só não o respeita como não valoriza o "privilégio" (palavras dele) que é ter suas aulas.

Pra completar, estou um caco. Não tenho uma noite decente há dias, meu pulmão parece que vai sair e estou com o poder de concentração e raciocínio de um peixe dourado.

Não, não estou calmo.

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quarta-feira, 14 de abril de 2010 10:53:33

It ain't over 'till it's over, diria Sly.

Durmi somente 40' esta noite para fazer ajustes finais e agora estou na bilioteca (na verdade, desde às 7:50) revisando tudo e passando 30 páginas de decisões judiciais para a mono. Detalhe, estas páginas estão em pdf e precisam ir para o word, assim TODOS, mas TODOS os parágrafos e linhas estão desregulados, precisando estes serem corrigidos manualmente. Cada um.

No pain, diria Sly.

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Sexta-feira, 16 de abril de 2010 0:31:03

Continuando a sequência de boas referências: como diria Al Pacino, take a good look at my friend [metralhadora]!!! Ok, não era esta frase que eu pensei (ainda que cabível). Era: U-haa!

Sim!! Mandei imprimir e fazer a brochura ontem, poucas horas após a última mensagem. Amanhã buscarei o rebento. Depois é só colocar na roda na porta do orfanato e eles que se virem!

Estou calmo.

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Sexta-feira, 16 de abril de 2010 17:36:12

It's alive, IT'S ALIVEE!!!

É isso aí pessoal, a criatura vive.

Peguei as brochuras hoje e protocolarei em alguns minutos. Tal qual a obsessão de Frankenstein, trata-se de pedaços de vários autores mortos (alguns vivos) costurados até formarem um corpo novo, dotado de algum pensamento próprio. A criatura já anda, nas próximas semanas deve aprender a correr e a falar - o mais importante.

Espero que não a recebam com tochas...


segunda-feira, 5 de abril de 2010

A irredutível marcha do progresso

Comprei um par de óculos escuros de lentes circulares. As reações:

Minha mãe:

- Ahh, iguais aos do John Lennon!

Meu colega de faculdade:

- Ei, como Quase famosos!

Minha prima de dez anos:

- Uau, tipo os da Lady Gaga!

Toma essa, Comte.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tandandandan (2X)

- Não ia te telefonar, mas não podia deixar de elogiar sua mensagem!

eu - Haha, obrigado.

- Sério. "Hoje é o dia da música tema do verão: 9/02/10", até demorei para perceber.

- Fiquei preocupado que você não fosse entender, mas de tanto repetirmos isso um mês atrás...

- Nem. Mas o quê você estava fazendo para perceber isso?

- Decidindo o futuro das pessoas, uma jornada normal de trabalho. A diferença que eu olho a data de cada dia, faz diferença se é sábado ou quarta-feira para mim.

- Ok, eu não estou fazendo nada, e daí?

- A Sessão da Tarde foi boa?

- Ótima. Cão solitário salva garoto que joga basquete. Ou o contrário. Mas queria dizer que você se superou hoje. Imaginei até que você estava em algum barato provocado por quindins.

- Não, essas coisas simplesmente vêm até mim. Eu se fosse você anotaria, para a posteridade, sabe.

- Estive pensando nisso. Realmente preciso comprar um caderno para anotar as suas epifanias.

- E eu vou comprar um bloquinho para as suas.

Meus amigos são poucos, mas são bons.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ban, você consegue ouvir os sons?

(Escrevi em setembro. Pensei que estivesse perdido. Não é muita coisa, mas é algo simpático - como o autor.)

Às vezes, não adianta fugir dos fatos. No entanto, correr atrás deles cansa mais que maratona.

Respire fundo! Estou vasculhando a memória e tentando decifrá-la para compreender os últimos eventos - de 35 horas atrás, para ser mais exato. Talvez não haja nada a ser compreendido, mas a tentativa é valida. É isso ou ser surpreendido. Mais uma vez.

Eu e meus amigos formamos um grupo pequeno e fechado. Não aceitamos novos membros facilmente e nem estamos interessados nessa possibilidade. Nos bastamos. Não sei como nos encontramos, mas combinamos de uma maneira que é difícil imaginar passar dias sem nos ver. Enfim, por mais que eu não goste de admitir, somos um Grupo - na acepção sitcom do termo, se preferir.

Enfim, temos um membro mais ou menos recente, de ascenção meteórica nos meus degraus da amizade: a Flávia. (Vou começar a nomear as coisas por aqui. Muito mais fácil.) Não vou me ater ao meu passado com ela. Quero saber dos fatos que culminaram nas últimas 35 horas.

Quinta-feira. Flávia decidiu que faríamos (nós, o Grupo) uma noite de tequila na casa de um dos nossos, Miguel. Beleza, só falta avisar o Miguel.

Quem? Miguel é um dos mais antigos nossos, uma das pesoas mais honestas que eu já conheci. Infelizmente, para ele grosseria faz parte dessa coisa de honestidade. É admirável, na verdade. Se ele não gosta, despreza. Se não tem interesse, ignora. Se vence, vangloriza-se descaradamente. Não só isso, o Miguel faz questão de anunciar a hombriedade: ninguém perguntou, mas ele já faz um parecer a respeito de alguma prática sexual. Eu sei, pode soar como um chato, mas ele é um cara legal. Verdade.

Então, sexta à noite, anfitrião devidamente avisado, éramos seis no total: Miguel, Flávia, Henrique, um casal (ela, uma das nossas, ele, absorvendo-a completamente) e eu. Diga-se de passagem, não sou bom com tequila. Nem um pouco.

(O que me lembra, preciso me vingar de quem sugeriu um jogo de beber, o sueco. Basicamente, há um baralho e cada carta significa uma coisa e essa coisa tem relação a virar o copo. Jogos de bêbados não podem ser complicados.)

O jogo avançou, o casal deu o fora, eu fiquei bem torto e, em algum momento que eu não percebi, a Flávia tinha saído da sala.

Ou o Miguel. Engraçado que não consigo lembrar quem saiu primeiro, muio menos o que disse quem saiu depois. A casa do Miguel é pequena, apartamento de solteiro, movimentar-se da sala para qualquer outro lugar exige palavra a quem está no caminho.

Resultado que eu e o Henrique estávamos conversando quando, de repente, ele perguntou onde os outros dois estavam.

Eu não tinha a menor idéia.

Eles estão no banheiro, disse o Henrique, com um repentino tom de cochicho.

Ué, fazendo o quê?

Fale mais baixo! Ué, o que mais pode ser.

Pausa constrangedora. Eu definitivamente não raciocino bem com tequila.

Ban, você consegue escutar os sons?

Oh... não parece nada para mim - desconversar, uma arte esquecida.

Porra, a gente tá na sala ao lado! Só tem uma parede aqui! Que cara-de-pau...

Barulho de torneira abrindo. Água corrente.

Bem, pelo menos eles estão mais discretos agora. - falei, mesmo com meu copo meio vazio.

Vou lá ver.

O quê? Você não pode fazer isso!

E eles podem? Além disso, você escutou fecharem a porta?

Urgh. Eu preciso muito ir ao banheiro.

Diante da extrema coesão apresentada por mim, Henrique se levantou, vagarosamente, e foi, com enorme cautela (devido à bebida e não ao espírito investigativo), até o corredor.

Lembro que naquela espera, o tempo pareceu esperar comigo. Talvez fosse o efeito etílico, a solidão súbita, ou mesmo a enorme vontade de ir ao banheiro. Fato que eu desejava que ele voltasse rindo, dizendo que o Miguel estivera este tempo todo vomitando pelo banheiro, ou a Flávia desmaiada no chão. Preferia pensar nisso que nas consequências da possibilidade mais lógica.

Henrique voltou e fez um sinal de fim de jogo.

E aí? - Não me aguentei.

O que você acha? Tão ficando.

Não. Sério?

Tô dizendo. Eu vi. O que mais poderia ser?

Você tem certeza?

Barulho de porta fechando. E tranca.

Isso responde à sua pergunta?

Pelo jeito você não foi tão discreto...

Pelo jeito eles se tocaram de alguma coisa...

Não consigo acreditar que a Flávia tenha feito isso.

Ué, como não?

Ora... um de nós...

O pior é que é na nossa frente! Porra, uma noite entre amigos, deixei minha namorada em casa e, do nada, esse tipo de coisa!

É. Desagradável.

Pra dizer o mínimo.

Bem, tenho uma preocupação maior no momento.

Qual?

O tanque, ao lado da cozinha. Você lembra se era alto?

Meu Deus, você leu minha mente. Pensei pela janela, mas me pareceu tão...

Aluísio Azevedo?

Exatamente.

Suspiros desanimados.

Olha, já sei o que fazer - disse o Henrique.

Confesso que este foi um momento de apreensão para mim. Mas ele simplesmente levantou e foi até o banheiro. Deu três batidas na porta e, em alto e bom som:

Vocês sabem que esse é o único banheiro da casa, né? - Eu teria gargalhado se pudesse mover o abdômen.

Voltou ao sofá e dois minutos depois apareceram Flávia e Miguel, com sorrisinhos de cumplicidade. Ela foi a primeira a falar, ao passar por mim e apontar para a barra da calça:

Tá vendo? Vomitei.

Ah...

Sério, o banheiro tá imundo. Tava passando mal, mas mal mesmo, até agora.

E o Miguel? Segurou seus cabelos?

Quê? Eu podia ajudar, eu tenho experiência no assunto - disse Miguel, sem alteração alguma, olhando para mim.

Henrique já tinha saído da sala. Estávamos apenas os três.

É engraçado como três pessoas que são muito próximas podem ficar subitamente constrangidas umas com as outras. Miguel sentou em uma cadeira, em frente à outra com Flávia. Eu estava entre eles, sozinho no sofá, procurando digerir a noite - os litros e os fatos.

Por motivos que eu ainda não sabia, me senti sujo por ter testemunhado aquilo. Não tanto pelo silêncio, mas pelo que o havia precedido. O contrato da nossa amizade parecia ter sido violado. Furtivamente, com uma fuga ao banheiro. Despudoramente, com uma fuga ao banheiro permanecendo com a porta aberta em um apartamento de 50m².

Amigos não fazem este tipo de coisa - era tudo o que a tequila me permitia concluir.

Henrique voltou e eu pude (finalmente) ter algum tipo de alívio daqueles minutos. Levantei-me e fui ao banheiro. Impecável. Nem parecia haver qualquer universitário na casa.

De volta à sala, Henrique sentado na cadeira onde antes Flávia estava, me olhando com uma expressão de puro constrangimento. Não estava entendendo até me virar para o sofá: Miguel esparramado com Flávia encostada com todas as costas nele, com as pernas sobre o resto de almofada onde ainda caberia uma pessoa. Abraçados. Unidos.

Não precisamos de mais de cinco minutos até conseguirmos arranjar qualquer desculpa para sair dali. Henrique e eu nos levantamos. Estava tarde.

Mas Ban, eu que ia te dar uma carona de volta pra casa! - lembrou Flávia, sem mover um músculo.

Nem se esquente. Ele passa por lá.

Ah. Então tá. Eu não tô me sentindo muito bem mesmo, melhor eu ficar aqui até o efeito da tequila passar um pouco.

Claro.

No carro, eu, os litros e um Henrique ofendidíssimo, em palavras dele:

Estou ofendidíssimo! Como que eles têm a cara de pau de fazer isso? Na nossa frente!

Eu sei...

Meu Deus, estamos sempre juntos!

Aham. Mas eu já não respondia. O sono era forte.

Sabe, eu não esperava isso. E a Flávia é tão gente boa, bonita, sabe um monte de cultura pop. Você e ela estão sempre conversando, né? Às vezes por horas, ela me contou. Que te acha super engraçado. E comigo ela é legal também. Sabe, se pensar bem, o Miguel é um cara de sorte. Quem quer que ela namore vai se divertir bastante.

É. Deveria ser eu...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

hungry hearts


Eu cometi alguns erros no final do ano. Mas não quero falar disso agora.

(500) Days of Summer é um dos filmes do ano que passou. Sabe aquele cinema tão bem pensado e executado, com atuação, roteiro, fotografia, edição e trilha impecáveis, que só pode ser explicado por algum alinhamento cósmico? É um desses.

Não lembro a última vez que vi um filme com um sorrisão de orelha a orelha, desde o primeiro minuto ao último – que eu nem queria que chegasse. A história está completa já no pôster: "Garoto conhece garota. Ele se apaixona. Ela não". Uma experiência, brilhante mesmo. Não estou exagerando: acompanhei aqueles minutos como se observasse um segredo se descortinando, ou um espelho mais estiloso e bem fotografado da vida real. Verdade seja dita, não foi difícil gostar do filme, vez que eu não sou muito diferente do personagem principal. Aliás, nem um pouco. Ele acredita no amor, na beleza, no impulso e no fracasso. Em resumo, é um babão. Eu também.

Há outro motivo para o filme funcionar tão bem e ele tem olhos azuis enormes: Zooey Deschanel. Impossível não sair derretido por ela. Deixei a sala do cinema decidido a encontrar minha própria Zooey (não a Summer, que é uma pessoa assustadoramente tão real quanto fria). E a encontrei.

Ela era adorável e simpática. Com um sorriso um tanto tímido e o par de joelhos assimétricos mais encantador que já vi. Além disso, era dotada de algo que só posso explicar como uma “aura cool”, devido a sua profissão e conversa.

(Eu disse que sou babão.)

Aqui fica um dos meus maiores erros: como facilmente dedutível, eu tendo a idealizar a garota no exato momento em que a percebo. É mais forte do que eu. Não é nada do tipo Pores-do-sol, Caminhadas na praia e Cia., entretanto. Ainda assim, eu sei que é fruto da minha imaginação descontrolada e acarreta em duas conseqüências no mínimo desastrosas. A primeira é me transformar em alguém muito feliz mesmo com pouco ou nada acontecendo, já que sou alimentado pelos curtas da minha própria sessão particular. Nada contra ser feliz, respeito quem faz esta escolha, cada um na sua, etc., mas eu não funciono muito bem nessa configuração. Além disso, por ser uma felicidade “acessível”, ela me desmotiva a dar passos maiores (ou mais seguros) para o que há de verdade lá fora – inclusive há a falsa sensação de “dever cumprido” (o mantra de que, se estou feliz, alcancei alguma coisa). A segunda, bem pior, é o fato de que a realidade nunca vai fazer jus à ficção que montei. Transforma-se em uma corrida contra um fantasma, o que vai desgastando tudo, e de uma maneira bem lenta, pois continuo cego e agarrado ao quadro que mentalizei.

E foi assim que deu errado. Botei os pés pelas mãos, admito.

De volta ao ponto de partida, um pouco mais sábio. Pelo menos.

Claro, já me amaldiçoei a respeito e fiz o mesmo com o mundo. Por exemplo, tenho um conhecido que é, sim, um babaca. Um cara do bem, mas ainda um babaca. E tem guria caindo em cima. Além de ser desalentador para o futuro da humanidade, este tipo de apontamento sempre me faz questionar minhas escolhas.

Estou freqüentando os lugares certos? Devo sair mais? Minhas roupas são inadequadas? Minha barba está tão ridícula assim? Eu preciso malhar?

Eu preciso me tornar um babaca para ser apreciado?

Conversando com uma amiga de infância da minha irmã ela me disse que estava cansada do mundo:

“Eu sou legal, faço um puta de um curso [medicina], estudo, sou muito mais bonita que muita guria por aí. E... sabe, não acontece nada. Eu não quero ser como essas vadias – pra começar, eu sou capaz de manter uma conversa por mais de dez minutos – e eu não quero sair fazendo um estrago e agarrar todo mundo. Eu não sei por quê parece que é como se eu repelisse os caras, eles passam reto! E olha que eu não tô afastando ninguém! Eu só não fico me tacando nos outros”.

Vale destacar que ela é uma garota bem legal, uma das melhores amigas da minha irmã, se não a melhor (sim, isso impossibilita qualquer coisa, além de eu conhecê-la desde criança e ainda vê-la assim).

Ficamos conversando e desenvolvemos a desculpa de que há uma espécie de “controle de churrascaria” na vida amorosa. Se o lado vermelho estiver para cima, a carne não chega até você. A teoria a deixou contente, mas acabou em um beco sem saída: como virar para o lado verde?

Não soube respondê-la.

Mencionei que talvez fosse uma questão de exposição (não-física), mas percebi que era uma bobagem pois sou uma das pessoas que conheço que mais se expõe aos outros – e cá estou. Ela sugeriu que talvez fosse necessário fingir mais, fazer mais jogos – porém fumaças e espelhos são boa parte dos motivos de nossas insatisfações com o mundo em questão, sem mencionar o desgaste em que acarretam.

Concordamos que também é horrível ouvir coisas como “mas você é tão legal”, “nossa, mas você merece alguém mega especial”. Sei.

Ouvi uma guria dizer que “matava” (sic) para conhecer um Tom (personagem principal do filme já mencionado). Eu só faltei acender um luminoso na minha testa.

Tem gente que quer pastar e não olha pro próprio quintal.

Isso não se aplica a mim, que fique bem claro. Destruir uma amizade importante da minha irmã (ou arriscá-la seriamente) não está nos meus planos. E crescemos juntos. São poucas as coisas menos empolgantes em uma pessoa que crescer juntos – diga-se de passagem, desconfie de qualquer um que afirme o contrário: você estará diante de um imbecil, raça bem pior que babões. Os primeiros são conhecidos pela mentalidade curta e condicionada, enquanto os segundos por saliva descontrolada. Usando uma metáfora ruim, babões são míopes, recuperáveis com o grau certo de óculos, enquanto um imbecil é cego; ele se agarra ao que acredita, mesmo sem ter como justificá-lo. Você não conseguirá mudar as opiniões de um imbecil. O babão eventualmente cai em si.

Acabei falando de alguns erros que não queria mencionar. Continuo com a característica de quebrar os compromissos que faço comigo mesmo.

Mas disso eu falo outra hora. Prometo.