domingo, 30 de dezembro de 2012

Escolha difícil

É dia do show.

Você chega ao lugar tão falado por todos e imediatamente começa a olhar ao redor. Há bastante gente por todos os lados e você procura por um canto confortável para chamar de seu. A primeira escolha, feita às pressas, é boa, centrada, mas fica a impressão de ser longe demais do palco do evento. Troca-se por um local lateral, cômodo por ser perto do bar, mas por isso mesmo movimentado demais – e é fácil perceber um lugar vago ali, mais à esquerda. Passa-se ao lugar almejado, já tomado por outros apenas no ínterim de se chegar até lá. Pior, apesar de ser próximo da ação do palco, é barulhento demais. Então você muda novamente, para um local mais ao fundo, na lateral, com uma boa visão e ainda tranqüilo. Você tenta relaxar, mas não consegue deixar de pensar por um instante se a experiência não seria melhor mais à frente, ou mais à direita – sem mencionar a necessidade constante de proteger seu espaço de possíveis invasores.

Quem sabe escolher lugar em um show não seja tão diferente de casar-se com alguém.

Quero dizer apenas que não, por pura pregüiça não tenho saído para ver qualquer apresentação ultimamente.

domingo, 25 de novembro de 2012

O impossível

Consegui um emprego.

Segura essa, Jean Cocteau.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tom antes de quebrar

Perto do final de "(500) dias com ela", o personagem principal, Tom Hansen, está no auge de sua fossa pelo seu amor não correspondido, seu trabalho sem saída e a decoração capenga de seu apartamento. Como qualquer filme sobre superação que se preze, Tom decide mudar sua vida ao som de uma música assobiável junto a uma edição veloz e acelerada. Ele altera sua decoração com uma parede "com sonhos" e planos, estuda, faz um novo currículo, larga seu vestuário usual para um terno e sai à procura de um emprego.

Lembro muito bem o quanto fiquei entusiasmado com este filme quando o vi pela primeira vez, seus bons diálogos e atuações em uma fotografia azul de verão, formando um mundo cheio de possibilidades, boa música e garotas bonitas que podem partir seu coração. Passeando pelos canais da tv dias atrás, revi o filme pela primeira vez, aos pedaços.

É terrível.

Tom quebra e desiste de basicamente tudo o que o define como pessoa, de seu penteado, roupas e profissão à sua paixão (mesmo que seja por uma garota mala) para encaixar-se em uma fôrma qualquer, em um escritório qualquer, apenas esperando o próximo desastre. Suas novas escolhas supostamente o fazem mais "maduro", "sábio" e "adulto", como se sua nova parede (de sonhos!) fosse menos capenga, o terno menos uniforme de uma classe e o novo trabalho menos sem saída - e, o que mais me incomoda, como se tudo o que ele vivia até então não fosse digno.

Ainda, o que nem "(500) dias..." e nem outros 500 filmes que usam a técnica da montagem pré-superação com música "pra cima" mostram corretamente são os momentos que acontecem antes da quebra, quando o personagem finalmente percebe sua situação e decide como mudar o seu paradigma. Não se trata de renegar o passado nem há garantias de sucesso após a quebra. Posso afirmar com propriedade que é um processo chato, longo e silencioso, sem tom nenhum além da agonia e da incerteza.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fracassos exemplares

Miguel fracassa em ensinar calouros. Flávia fracassa em escrever um blog. Henrique fracassa em terminar o namoro. Marina fracassa em ser demitida. Bandini fracassa em conseguir um emprego.

Somos todos amigos. Qual destes fatos é de propósito?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não vá.

- Cara, não vá.

Depois da terceira vez que escutei isto de três pessoas diferentes, decidi que precisava mesmo ir.

Após meses sem notícias, soube que a última garota por quem senti alguma coisa estaria em determinado bar em uma sexta-feira à noite. Existiram garotas depois, mas nenhuma me fazia tão calorosamente estúpido como ela.

Fiquei surpreso quando a vi. Seus cabelos negros, que sempre me pareceram brilhantes, estavam sebosos. Antes, possuía um estilo para suas roupas entre o inesperado e o discreto, agora ela estava vestida em uma combinação infeliz de bege-cinza. E seria possível que tivesse engordado? Nunca havia notado a dobra na cintura sobre a calça. Chamar seu nariz de exótico, como eu fazia, pareceu-me uma negação da realidade – e como saía tão bem em fotos?!

Ela estava feliz com seus amigos. Conversamos brevemente, sem lembrar o passado. Teríamos mudado tanto em tão pouco tempo? Talvez seja mais assustador pensar que não mudamos em nada.

Após o choque da realidade, não resta nem a saudade de um amor.

domingo, 17 de junho de 2012

Três primárias

Marquei de sair com uma garota com convicções religiosas. Tudo decidido para um “quase-encontro” no final da tarde do dia seguinte, em um lugar relativamente neutro mas aconchegante, quando recebo uma mensagem alterando para um almoço em um restaurante conhecido dela. Aceitei. Se já estaria desrespeitando várias regras pessoais ao sair com ela, um “encontro” em pleno almoço seria apenas mais uma.

Ela estava com um vestido amarelo-pálido um pouco otimista para a temperatura e foi muito bom revê-la depois de tanto tempo. Não me lembrava de ela ser tão calorosa ou mesmo empolgada com conversas e a vida. A sutileza exigida em um primeiro encontro foi elevada devido ao lugar e, principalmente, a hábitos ainda um tanto secretos para mim. Assim que fomos servidos, por exemplo, ela inesperadamente abaixou a cabeça e fez o que depois descobri ser uma breve oração, enquanto eu esperava disfarçando o espanto. Ainda bem que raciocinei antes de falar em um tom mais alto “você está bem?!”.

O mais surpreendente foi o fato de eu ter realmente me divertido com a presença dela, seu tom animado e curioso e o jeito tímido de me perguntar certas coisas. Nos despedimos com a possibilidade de um novo encontro na semana seguinte, em um final de tarde, “com mais tempo”, ela disse.

Tempo é tudo o que tenho e não sei oferecer.

Mais tarde, no mesmo dia, fui sozinho a um bar apoiar uns amigos com banda. Estava andando por lá e uma garota puxou meu braço sorrindo:

- Não vai me dar oi?

Após dois longos segundos, minha cabeça recebeu oxigênio o bastante e soube quem era. Filha de amigos de meus pais, ela agora tem faculdade, profissão e um cabelo ruivo-cereja. E simpatia de sobra. Tivemos uma conversa breve e prazerosa, eu fiquei feliz por revê-la e poderia dizer que o mesmo era válido para ela. Acabei convidado para uma festa dela em alguns dias.

Tenho tempo. Seria grosseiro não ir, certo?

Caminhando pelo mesmo bar, outra surpresa. Reconheci uma antiga colega de colégio, com quem conversava bastante e que perdi completamente o contato em um daqueles afastamentos que tem origem na troca de escolas antes da era de redes sociais. Sempre fomos parecidos em várias coisas e agora estamos em hiatos parecidos na vida. Ela usava um anel de resina azul na mão direita que me lembrava do nosso antigo uniforme. Acabamos conversando a maior parte da noite, rindo de erros antigos, vendo quem tinha menos notícias de nossos ex-colegas e comparando os possíveis planos para os próximos meses. Ao me despedir, ela disse “não suma hein! Sabe, foi realmente bom te reencontrar”.

Tempo é uma coisa estranha...

Estes três encontros ocorreram três meses atrás. Nada deu certo. Quem ganha primária não garante eleição.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Epifania do dia

Acabo de perceber que minha paixão platônica por Caroline Dhavernas (Jaye Tyler de "Wonderfalls") tem origem remota em minha paixão platônica de infância por Meredith Henderson, a protagonista de "As aventuras de Shirley Holmes" (1996) -  que por sua vez explica minha outra paixão platônica mais tarde por uma garota do meu colégio quando ambos comprávamos volumes de Sherlock Holmes na feira do livro. Impressionante como as três são tão parecidas.

Estamos condenados a nos repetir, mesmo que platonicamente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mamãe sabe tudo

Sábado de almoço em família, a televisão fica ligada para cobrir os possíveis silêncios. Começa uma daquelas propagandas de campanha anti-drogas, com depoimento de um pai:

"Minha filha tinha um grande futuro. Notas boas, promessas na faculdade, bons amigos... Mas daí ofereceram drogas pra ela... Más companhias, doente o tempo todo, sem emprego nenhum, vida vazia..."

Surge uma jovem saudável que se senta em seu colo.

"Ainda bem que não exprimentei né, pai?"

Não resisti diante da verdade:

- Urgh, estou igual a esse depoimento e nem exprimentei nenhuma droga.

- Pois é, devia pelo menos ter experimentado! Passe as batatas.

É o tipo de palavra de apoio que recebo da minha mãe.

domingo, 13 de maio de 2012

Quem é Jen Why?


Wonderfalls é uma das melhores séries já criadas. Teve vida breve: somente treze episódios em 2004 – a Fox não acreditava em seu potencial e tirou do ar ainda no episódio quatro. Não podemos culpar completamente o canal. A série girava em torno da jovem Jaye Tyler que passa a escutar “ordens” de objetos com faces de animais – assim, sem qualquer explicação. Ainda, sua montagem era acelerada, não raro com tela dividida, edição que “voltava a fita” e flashbacks – condutas ousadas em era pré-Lost. O canal não entendeu nada.

O time de envolvidos era incrível: criada por Bryan Fueller (dos também geniais, e de vida breve, Pushing Daisies e Dead Like Me) e Todd Holland (que tem um tino sensacional para comédia e volta e meia dirige episódios de 30 Rock), com um elenco afiadíssimo e bastante entrosado liderado por Caroline Dhavernas (um bom motivo para se amar o Canadá).

Os diálogos são afiados, ágeis e graciosamente polissilábicos – qualidades raras mesmo sozinhas na televisão aberta americana – e os personagens são muito bem desenvolvidos. Jaye Tyler (Dhavernas), principalmente. De vinte e poucos anos, diploma de boa faculdade debaixo do braço, ela passa o dia trabalhando em uma loja de souvenirs em Niagara, subalterna de um garoto mais novo e patético, voltando para seu trailer aconchegante e evitando seus familiares, todos bem-sucedidos. Contudo, ela é feliz. Todo seu suposto fracasso é cuidadosamente calculado.

Jaye tem uma família amorosa, é inteligente, capaz, bonita e autoconfiante. Porém, prefere ter um trabalho que não a desafia, com pessoas que ela nunca verá novamente (turistas vêm e vão), viver em uma casa com rodas que não sai do lugar e evitar contatos profundos com homens ou fazer novos amigos. Paga suas contas e tem seus prazeres. Para quê complicar? Trata-se de uma garota ácida, espirituosa e arisca, que não gosta de se envolver e que conseguiu criar um ambiente para si “livre de stress e de qualquer expectativa”, como afirma uma personagem. E nisto entram os seres inanimados animados como macacos de bronze e pinguins de brinquedo que passam a lhe irritar até que Jaye faça o que mandam. E isto a faz se abrir para a vida, aos poucos.

É uma comédia, aliás. Muito boa.

Em determinado episódio, discute-se exatamente quem é Jaye. “É a quintessência da Gen Y”, diz uma, “são jovens abençoados com educação e oportunidades que não sofrem com adversidades, as atravessam”. E ainda continua com “nunca vivendo todo seu potencial, mas nunca se machucando”. A dúvida que atravessa a série e atinge em cheio o espectador é “Por quê?”.

Realmente, machucar-se não está entre as preferências de minha geração, muito menos das que a sucedem. Não abrimos mão de nosso conforto. Provavelmente a gente deixe de sentir muita coisa nesse processo. O conforto, acima de tudo, conforma.

Levantar, lutar por alguma coisa e, especialmente, escolher alguma coisa merecedora são tarefas difíceis e dolorosas – e a série mostra indiretamente isto.

No final das contas, ao seguir as ordens de leões de cera e iguanas de pelúcia Jaye tem a sorte de ser poupada de escolher.

Nós não.

(Mas sempre poderemos escolher ver Wonderfalls. No conforto de nossos lares, claro.)

Abrir-se para a vida, percebemos com ela, não é fácil, porém tem suas vantagens.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Obituário de uma biblioteca pública

Lendo um exemplar de uns meses atrás (nº 8) de Cândido, jornal da Biblioteca Pública do Paraná, reparei no perfil de um "frequentador assíduo da Biblioteca". Atenção para o trecho:

"Leitor eclético, Fulano vai de Veja à IstoÉ, mas dispensa a literatura de ficção. 'Não me aventuro muito por essas bandas, não.'"

Nem Jesus salva. Nenhum deles.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Free fallin'

Mandei uma mensagem para uma garota com quem não falo há mais de um ano com uma dúvida profissional. Antiga colega de turma, bonita, inteligente – e muito religiosa. Recebi no mesmo dia uma resposta, de cinco parágrafos, com um texto caloroso e efusivo. Incluía uma brecha, discreta, para um possível jantar ou drink.

No passado já havia pensado a respeito, mas tenho minha meia dúzia de princípios e sabia que seria um risco terrível me envolver com alguém que tem muitas dúzias de princípios. Porém, a resposta recebida deixou-me intrigado. Seria uma flexibilização? Uma fraqueza? Ou apenas mais uma conhecida vítima do vazio pós-formatura?

Só há uma maneira de descobrir: caindo. Pode ser paranóia minha, ou blefe dela.

De qualquer maneira, para o bem ou mal, acabará em mágoa e fofoca. Mas tudo bem, tenho me preocupado menos com os fins e mais com os meios.