sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dancing in the dark


Já havia deixado meu carro e estava levantando de pegar o cartão de estacionamento do chão, quando vi um carro se aproximar à minha frente. Escutei uma buzina quando passou por mim e o tal carro parou. Era cinza e já com vários anos, de linhas quadradas e vidros escuros. Um carro masculino.

Para meu espanto, uma das garotas mais adoráveis que conheci abaixou o vidro preto do motorista e, após um oi, me chamou até lá. Fazia meses que não a via. Já não a procurava com os olhos pelos corredores, nem com saudade pela memória. Era passado. Acima de tudo, fiquei surpreso por encontrá-la – ainda mais no estacionamento, naquele carro. Nunca freqüentamos os mesmos horários. Fui até ela e começamos a conversar, como se tudo aquilo fosse rotina. Não demorou até que dois carros parassem atrás de nós esperando a passagem ser liberada. Nos olhamos, parecia que deveríamos nos despedir – e assim, passar mais alguns meses sem nos esbarrar.

- Você quer uma carona? – ela me disse, sorrindo desbocada.

- Quero sim – e dei a volta até a porta do passageiro. Pude constatar o olhar de surpresa que recebi. Ela não teve tempo de impedir ou reagir e tentou rapidamente limpar o assento – não lembro a última vez em que vi tantos recados, bilhetes, recibos e pedaços de papel juntos. Após ela tacar tudo para o banco traseiro, pude me sentar, já ao som de buzinas dos impacientes de trás.

Foi uma viagem curta, de menos de 20 metros. Não lembro mais do que conversamos, nada profundo ou muito convidativo.

- Você dirige bem.

- Mesmo? Obrigada.

E nisto ela acelerou a ré e, felizmente, o carro foi parado bruscamente pelo cano de segurança no chão da vaga.

- Ok, nem tão bem.

Saímos do carro sem demora e fomos até a escada. Ela fez sinal para pegarmos o elevador.

- Que bobagem! Vem, vamos por aqui.

Subimos as escadas, a conversa amigável, mas com uma nuvem acima de nós. Eu sabia que era o encanto dela, mas fazia de conta que não era nada. Se eu não ligasse, talvez não sentisse. Nossas perguntas e respostas sempre parecem uma dança de compasso esquisito: um passo para frente, dois para trás, um para esquerda, um para trás, quatro para frente, dê a impressão que vá para a direita e vá para a esquerda. Não sabemos dançar juntos.

- Bem, eu fico por aqui. – falei, mas eu não saí. Continuamos com nossa dança cega mais um pouco, mas eu já não queria participar.

Com a pausa que se seguiu, consegui me surpreender novamente. Ela dobrou o cotovelo, levantou sua mão à altura de seu ombro, fechou o punho – e o lançou, solto, no meu ombro.

Não tive dúvidas: fiz o mesmo. Dobrei o cotovelo, levantei minha mão à altura de meu ombro, fechei o punho e o lancei, solto, em seu ombro.

Ela foi um pouco mais para trás que eu, movida pelo susto e não por minha força.

Nos despedimos, estampado em nossos rostos incompreensão (eu) e surpresa (ela).

Preciso aprender esta dança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A nod is as good as a wink to a blind horse

Com uma guria, esperando o filme começar:

- Vou colocar mais sal na pipoca, tudo bem?

- Ah, pode ser. É que...

- O quê? Você não gosta de sal?

- Não... Hipertensão, sabe?

- Sei. Daí tem que fazer sexo.

- Se você insiste...

Sempre peço minha pipoca com sal extra.