quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

hungry hearts


Eu cometi alguns erros no final do ano. Mas não quero falar disso agora.

(500) Days of Summer é um dos filmes do ano que passou. Sabe aquele cinema tão bem pensado e executado, com atuação, roteiro, fotografia, edição e trilha impecáveis, que só pode ser explicado por algum alinhamento cósmico? É um desses.

Não lembro a última vez que vi um filme com um sorrisão de orelha a orelha, desde o primeiro minuto ao último – que eu nem queria que chegasse. A história está completa já no pôster: "Garoto conhece garota. Ele se apaixona. Ela não". Uma experiência, brilhante mesmo. Não estou exagerando: acompanhei aqueles minutos como se observasse um segredo se descortinando, ou um espelho mais estiloso e bem fotografado da vida real. Verdade seja dita, não foi difícil gostar do filme, vez que eu não sou muito diferente do personagem principal. Aliás, nem um pouco. Ele acredita no amor, na beleza, no impulso e no fracasso. Em resumo, é um babão. Eu também.

Há outro motivo para o filme funcionar tão bem e ele tem olhos azuis enormes: Zooey Deschanel. Impossível não sair derretido por ela. Deixei a sala do cinema decidido a encontrar minha própria Zooey (não a Summer, que é uma pessoa assustadoramente tão real quanto fria). E a encontrei.

Ela era adorável e simpática. Com um sorriso um tanto tímido e o par de joelhos assimétricos mais encantador que já vi. Além disso, era dotada de algo que só posso explicar como uma “aura cool”, devido a sua profissão e conversa.

(Eu disse que sou babão.)

Aqui fica um dos meus maiores erros: como facilmente dedutível, eu tendo a idealizar a garota no exato momento em que a percebo. É mais forte do que eu. Não é nada do tipo Pores-do-sol, Caminhadas na praia e Cia., entretanto. Ainda assim, eu sei que é fruto da minha imaginação descontrolada e acarreta em duas conseqüências no mínimo desastrosas. A primeira é me transformar em alguém muito feliz mesmo com pouco ou nada acontecendo, já que sou alimentado pelos curtas da minha própria sessão particular. Nada contra ser feliz, respeito quem faz esta escolha, cada um na sua, etc., mas eu não funciono muito bem nessa configuração. Além disso, por ser uma felicidade “acessível”, ela me desmotiva a dar passos maiores (ou mais seguros) para o que há de verdade lá fora – inclusive há a falsa sensação de “dever cumprido” (o mantra de que, se estou feliz, alcancei alguma coisa). A segunda, bem pior, é o fato de que a realidade nunca vai fazer jus à ficção que montei. Transforma-se em uma corrida contra um fantasma, o que vai desgastando tudo, e de uma maneira bem lenta, pois continuo cego e agarrado ao quadro que mentalizei.

E foi assim que deu errado. Botei os pés pelas mãos, admito.

De volta ao ponto de partida, um pouco mais sábio. Pelo menos.

Claro, já me amaldiçoei a respeito e fiz o mesmo com o mundo. Por exemplo, tenho um conhecido que é, sim, um babaca. Um cara do bem, mas ainda um babaca. E tem guria caindo em cima. Além de ser desalentador para o futuro da humanidade, este tipo de apontamento sempre me faz questionar minhas escolhas.

Estou freqüentando os lugares certos? Devo sair mais? Minhas roupas são inadequadas? Minha barba está tão ridícula assim? Eu preciso malhar?

Eu preciso me tornar um babaca para ser apreciado?

Conversando com uma amiga de infância da minha irmã ela me disse que estava cansada do mundo:

“Eu sou legal, faço um puta de um curso [medicina], estudo, sou muito mais bonita que muita guria por aí. E... sabe, não acontece nada. Eu não quero ser como essas vadias – pra começar, eu sou capaz de manter uma conversa por mais de dez minutos – e eu não quero sair fazendo um estrago e agarrar todo mundo. Eu não sei por quê parece que é como se eu repelisse os caras, eles passam reto! E olha que eu não tô afastando ninguém! Eu só não fico me tacando nos outros”.

Vale destacar que ela é uma garota bem legal, uma das melhores amigas da minha irmã, se não a melhor (sim, isso impossibilita qualquer coisa, além de eu conhecê-la desde criança e ainda vê-la assim).

Ficamos conversando e desenvolvemos a desculpa de que há uma espécie de “controle de churrascaria” na vida amorosa. Se o lado vermelho estiver para cima, a carne não chega até você. A teoria a deixou contente, mas acabou em um beco sem saída: como virar para o lado verde?

Não soube respondê-la.

Mencionei que talvez fosse uma questão de exposição (não-física), mas percebi que era uma bobagem pois sou uma das pessoas que conheço que mais se expõe aos outros – e cá estou. Ela sugeriu que talvez fosse necessário fingir mais, fazer mais jogos – porém fumaças e espelhos são boa parte dos motivos de nossas insatisfações com o mundo em questão, sem mencionar o desgaste em que acarretam.

Concordamos que também é horrível ouvir coisas como “mas você é tão legal”, “nossa, mas você merece alguém mega especial”. Sei.

Ouvi uma guria dizer que “matava” (sic) para conhecer um Tom (personagem principal do filme já mencionado). Eu só faltei acender um luminoso na minha testa.

Tem gente que quer pastar e não olha pro próprio quintal.

Isso não se aplica a mim, que fique bem claro. Destruir uma amizade importante da minha irmã (ou arriscá-la seriamente) não está nos meus planos. E crescemos juntos. São poucas as coisas menos empolgantes em uma pessoa que crescer juntos – diga-se de passagem, desconfie de qualquer um que afirme o contrário: você estará diante de um imbecil, raça bem pior que babões. Os primeiros são conhecidos pela mentalidade curta e condicionada, enquanto os segundos por saliva descontrolada. Usando uma metáfora ruim, babões são míopes, recuperáveis com o grau certo de óculos, enquanto um imbecil é cego; ele se agarra ao que acredita, mesmo sem ter como justificá-lo. Você não conseguirá mudar as opiniões de um imbecil. O babão eventualmente cai em si.

Acabei falando de alguns erros que não queria mencionar. Continuo com a característica de quebrar os compromissos que faço comigo mesmo.

Mas disso eu falo outra hora. Prometo.